Mulheres-mães-cidadãs

terça-feira, 26 de junho de 2012




Na antiga Atenas, as mulheres eram isoladas no nicho doméstico. Não participavam da política, não tinham o direito de ir ao teatro, não frequentavam as academias (onde filósofos como Sócrates, Platão, Aristóteles e muitos outros pensavam sobre as questões do homem no mundo e na sociedade). Às mulheres era destinado o papel de serem filhas, mães e esposas, e de cuidarem do lar. Como dizia Chico Buarque, elas “geravam os filhos de Atenas”.



Mas, mesmo renegadas a um plano inferior, as mulheres – mães de Atenas – eram o esteio daquela sociedade onde o “logos” (conhecimento) tomou sua dimensão mais radical na história da humanidade. Segundo a mitologia grega, foi do ventre de Reia (deusa-mãe da fertilidade) que nasceu Zeus, o mais importante dentre as centenas de deuses cultuados pelos gregos. E foi do relacionamento de Zeus com outras deusas que nasceram os poderosos deuses do Olimpo –Apolo, Afrodite, Dionísio e tantosoutros –mistura de homens (com suas virtudes e fraquezas) e fenômenos da natureza.



A mãe é o símbolo da vida. E sempre coube a ela a função primordial de alimentar, aquecer, cuidar da cria.



Assim como as mulheres de Atenas, as mulheres-mães brasileiras também passaram anos a fio envolvidas com o trabalho doméstico e, até certo período da história do Brasil, também lhes foi negada a participação política. Diferiram, entretanto, e em muito, das atenienses da antiguidade, no que se refere ao seu papel na heterogenia. As mulheres de Atenas tinham que zelar pela depuração da raça ateniense (eugenia), ao passo que as mulheres que formaram o povo brasileiro -as índias, as escravas africanas e as brancas portuguesas, foram as grandes responsáveis pela miscigenação do povo brasileiro, o que gerou um país de grande riqueza cultural.



O Brasil tem para com as suas mulheres uma dívida histórica: mesmo num sistema patriarcal,foram as nossas índias, as escravas africanas e as brancas portuguesas que sustentaram, em termos de educação e afeto, os filhos que geravam, enquanto os homens-pais saíam para desbravar o interior da então colônia portuguesa, fossem eles brancos ou índios e, se negros, passavam de 12 a 15 horas nas lavouras e nas minas (escravos africanos).



Do final do século XX para cá, com a maciça entrada da mulher no mercado de trabalho, houve uma mudança radical no contexto sócio-econômico da família brasileira. Estudos feitos com base em dados do IBGE, mostram que cerca de 30% das mulheres de classe média são chefes de família. Mas, a grande participação do público feminino na renda da família está no setor C, com 41% do total da renda familiar. Não é por acaso, que a presidente Dilma Roussef (primeira mulher a ocupar a presidência do Brasil) declarou, recentemente, que dos quase 13 milhões de benefícios distribuídos pelo Governo Federal -dentre eles a Bolsa-Família - 93% são de responsabilidade das mães de família, que mantém os filhos na escola e cuidam da saúde deles.



Por isto mesmo, a presença da mulher-mãe nas esferas de decisão é fundamental. É ela quem vai procurar imprimirà cidadania seu sentido pleno, defendendo, com a veemência de mãe, a implementação de políticas públicas que possam, de fato, assegurar a saúde, a educação, a moradia, a segurança e o bem estar de todos os filhos-cidadãos. E são, elas, por sua grande sensibilidade que vão optar pela paz nos mais diversos fóruns onde esteja em jogo o conflito, sempre defendendo o consenso e o diálogo, ao invés da guerra.



As mães do Século XXI têm a função de dizer sim à vida, seja na esfera privada ou na pública.

Fonte:Pedro Victer

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