Morte materna: um triste fato que resiste ao tempo Mortalidade materna

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Publicado em Entrevista & Opinião no dia 25/06/2014 Já foi a época em que nossas avós contavam as dificuldades dos partos realizados em condições precárias e até inusitadas. Várias famílias têm uma história de um familiar ou conhecido que perdeu a mãe no momento do parto ou no pós-parto. A morte materna já foi enredo de filme e música, contando a triste história da mãezinha que morreu para dar a vida a uma criança e da criança que cresceu órfã, triste, por não ter tido o amor da mãe. Histórias, causos e contos à parte, a realidade se mostra muito mais complexa e desafiadora. Se no passado morriam muitas mulheres por falta de assistência adequada, complicações clínicas que as parteiras não conseguiam resolver, eclâmpsia, hemorragia e infecções. Hoje, do que morrem as mulheres que vão dar a luz? A Organização Mundial de Saúde, OMS, divulgou recentemente que o Brasil registrou uma queda de 43% na mortalidade materna entre 1990 e 2013. É um progresso, mas não basta. Ainda morrem, segundo a mesma fonte, 69 mães por 100 mil nascidos vivos (dado de 2013). A maioria dessas mortes acontece por complicações durante ou após a gravidez e o nascimento do bebê. Muitas dessas complicações se desenvolvem durante a gestação. Outras podem existir antes dela, mas são agravadas durante a gestação. Daí, a grande importância do pré-natal. As maiores complicações, responsáveis por 80% de todas as mortes maternas, são: pressão alta durante a gravidez (pré-eclâmpsia ou eclâmpsia), sangramento severo (após o nascimento do bebê) e infecções (normalmente após o nascimento do bebê). Todos juntos pela redução da mortalidade materna Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que o Brasil está entre os países latino-americanos que conquistaram avanços significativos na redução da mortalidade materna, quer dizer, mortes relacionadas à gravidez ou parto. Apesar da redução, esse ainda é um problema grave e frequente no Brasil. Para conversar um pouco mais sobre a mortalidade materna, nossa entrevista é com a dra. Esther Vilela, especialista em Ginecologia e Obstetrícia e coordenadora da Política da Mulher do Ministério da Saúde. Quais são as causas mais frequentes da morte materna no Brasil? As três causas principais de morte materna estão relacionadas à hipertensão, pressão alta durante a gravidez; à hemorragia tanto na gravidez, como no momento do parto ou pós-parto; e a infecção, decorrente de uma infecção urinária ou pode ser outro tipo de infecção, inclusive a infecção no pós-parto. O que é preciso fazer para conseguir reduzir ao máximo a mortalidade materna? Nesses três últimos anos, a Rede Cegonha, o Ministério da Saúde e o Governo Federal vêm investindo junto aos Estados e Municípios para melhorar tanto a ambiência das maternidades, quer dizer ampliar leitos, qualificar o espaço do parto para deixar mais acolhedor, mais confortável para as mulheres, que elas possam entrar com acompanhante. Sabemos que o acompanhante é um grande fator para reduzir a mortalidade materna. Existe todo o investimento hoje da Rede Cegonha para melhorar o atendimento das mulheres nos hospitais, criando o centro de parto normal; casas de gestantes, bebês e puérpera, que é aquela casa que fica perto do hospital para as mulheres de alto risco, que não precisam estar internadas, mas também não podem ficar em casa. Elas têm que estar pertinho para se caso acontecer alguma coisa, elas já estão lá ao olhar da vigilância e ao cuidado das equipes de saúde. Na sua opinião, o que cada gestante pode fazer? Eu acho que as mulheres precisam saber dos seus direitos enquanto gestantes. Nós vamos lançar agora a "caderneta da gestante" que tem muitas informações sobre os direitos, sobre o que é um pré-natal de qualidade para que ela possa, de posse disso, ser um agente de mudança da sua realidade, dos serviços de saúde onde ela frequenta, para que melhore esse serviço. Se esse serviço não está bom, que ela não fique calada, que ela possa junto com outras mulheres discutir o que seria melhor para ela e para as outras dentro do serviço de saúde, porque o SUS somos nós. Fonte: Pastoral da Criança

0 comentários: