HEBERT DE SOUZA- BETINHO

sexta-feira, 17 de julho de 2009




Herbert José de Souza, o Betinho, nasceu em 3 de novembro de 1935, em Minas Gerais, região montanhosa no interior do Brasil cujos habitantes são conhecidos por sua mansidão, pelo jeito calmo e sutil. "É um mineiro", diz-se das pessoas equilibradas, que dificilmente se exaltam ou assumem posições contundentes. Isso talvez ajude a explicar por que Betinho, assumindo integralmente as mais radicais utopias de transformação social, fazendo da sua própria vida uma bandeira costurada de bandeiras universais, sempre trabalhou no sentido de congregação, da união.
Terceiro de uma série de oito irmãos, completou, em 1962, os cursos de Sociologia e Política e de Administração Pública na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Minas Gerais. Nessa época, atuou como liderança nacional dos grupos de juventude católica que representavam as aspirações de transformação social, depois reforçadas com o Concílio Vaticano II e participou das conquistas pelas chamadas "reformas de base". Segundo testemunho do escritor Otto Lara Rezende, da Academia Brasileira de Letras, Betinho, nas praças públicas, pedia tudo que os comunistas pediam - e mais o céu. Nesse período de vida democrática do Brasil, exerceu funções de coordenação e assessoria no Ministério da Educação e Cultura e na Superintendência de Reforma Agrária, além de elaborar estudos sobre a estrutura social brasileira para a Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), da ONU. Data desse período também a sua presença nos movimentos operários brasileiros.
Com o golpe de 64, passou a atuar na resistência contra a ditadura militar, dirigindo organizações de cunho democrático no combate ao regime que se instalava. No começo da década de 70, foi para o exílio e, como no poema de Brecht, trocava de país como quem trocava de sandálias. Morou primeiro no Chile, em Santiago, onde deu aula na Faculdad Latinoamericana de Ciencias Sociales e atuou como assessor do presidente Allende.
Conseguiu escapar do sangrento golpe militar do general Pinochet, indo para a embaixada do Panamá, em 1974. Seguiu depois para o Canadá e México. Exerceu, nessa época, diversos cargos: diretor do Conselho Latino-Americano de Pesquisa para a Paz (Ipra), consultor para a FAO sobre projetos e migrações na América Latina e coordenador do Latin American Research Unit (Laru), entre outros. Foi, ainda, professor efetivo no Doutorado de Economia da Divisão de Estudos Superiores, na Faculdade de Economia da Universidade Nacional Autonoma do Mexico, e diretor de Brazilian Studies, no Canadá.
Com o crescimento dos movimentos pela democratização dos meios de comunicação no Brasil, seu nome tornou-se um dos símbolos da campanha pela anistia. Em 1979, retornou ao país e envolveu-se inteiramente nas lutas sociais e políticas, sempre se propondo a ampliar a democracia e a justiça social. No início dos anos 80, ajudou a fundar o ISER - Instituto de Estudos da Religião -, presidiu a Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS - ABIA, fundada, em 1986 e uma das primeiras e mais influentes instituições do País, preocupada com a organização da defesa dos direitos das pessoas portadoras do HIV ou doentes com aids. A sua luta pelo direito à vida aos portadores do HIV/AIDS não foi apenas pessoal, mas contextualizou-se em um nível mais amplo e elevado, o da defesa da dignidade humana. Além disso, dedicou-se à Coordenação-Geral do IBASE - Instituto Brasileiro de Análises Sócio-Econômicas -, cargo ocupado até os últimos dias, com firme resistência física e brilhante lucidez e consciência da realidade brasileira, cuja perversidade - exclusão social, concentração de renda e controle político - nunca deixou de denunciar. O Ibase é uma entidade governamental e tem como objetivo principal democratizar a informação acerca das realidades econômicas, políticas e sociais no Brasil.
A natureza não foi benevolente com o cidadão Betinho. Hemofílico, contraiu a aids em uma das inúmeras transfusões de sangue a que era obrigado a se submeter. Por essa mesma condição genética, em 1988, em um intervalo de três meses, Betinho perdeu dois irmãos: o cartunista Henfil, aos 43 anos, famoso pelo uso hábil e criativo do humorismo na crítica à ditadura militar, mesmos nos seus piores momentos de repressão à livre expressão política; e o músico Chico Mário, com apenas 39 anos. Mesmo abalado por estes acontecimentos, Betinho nunca abandonou a militância política, sempre presente em cada evento que levantasse a bandeira do humanismo.
No dia 05 de julho de 1997, Betinho foi internado no Hospital da Beneficiência Portuguesa, no Rio, vítima de uma infecção oral. Vinte e seis dias depois, pediu para voltar para casa. Morreu aos 61 anos, em 9 de agosto do mesmo ano, em sua casa, no bairro do Botafogo, no Rio de Janeiro, com 61 anos de idade, vítima da hepatite C. Em 11 de agosto, o corpo do sociólogo foi cremado. A seu pedido, as cinzas foram espelhadas em seu sítio em Itatiaia.
Betinho é, sem dúvida, o símbolo da determinação e do trabalho incansável pela cidadania, pela restauração da verdadeira democracia participativa, pela valorização da solidariedade e dos direitos humanos em uma sociedade injusta. Por essa constante postura desempenhou um importante papel em relevantes momentos da história recente do país e em vários movimentos de mobilização social, entre eles: a articulação da Campanha Nacional pela Reforma Agrária, em 1983, congregando entidades de trabalhadores rurais; a organização, em 1990, do movimento Terra e Democracia; a liderança, em 1992, do Movimento Pela Ética na Política, que culminou com o impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello, em setembro do mesmo ano. Terminada a batalha do impeachment, Betinho dedicou-se à Ação da Cidadania contra a Miséria e Pela Vida. A campanha contra a fome ganhou as ruas em 1993 e chegou ao final daquele ano com total aprovação da sociedade - 96% de concordância, segundo o Ibope. Sua figura humana adquiriu, então, notoriedade definitiva como o incansável Coordenador da "Ação pela Cidadania contra a Fome e a Miséria", que pretendia ir além de um movimento social de caráter assistencialista, para aglutinar outros movimentos e iniciativas individuais e comunitárias em todo o País. A "Campanha do Betinho" foi tão polêmica quanto popular e o seu sentido político maior, razão principal da polemização em torno de suas ações, tinha por objetivo final a promoção da cidadania, do direito ao emprego e da luta pela terra, etapa final do programa de ação planejado e o maior legado público da vida deste brasileiro humanista.
No ano de 1994, lançou a Campanha "Natal sem Fome", que arrecadou, no primeiro ano, 600 toneladas de alimentos. Em agosto do mesmo ano, fez um pronunciamento na ONU, na reunião preparatória para a Conferência Mundial sobre o Desenvolvimento Social. Houve, ainda, dois momentos marcantes: a Caminhada pela Paz do Movimento Reage Rio, em novembro de 1995; e o desfile no carnaval de 1996, quando Betinho foi enredo da Escola de Samba Império Serrano, no Rio de Janeiro, cujo tema foi: "E verás que um filho teu não foge à luta". Em suas últimas iniciativas, entre os anos de 1996/1997, apresentou uma proposta para a Agenda Social Rio 2004 ao Comitê Olímpico Internacional, quando a cidade do Rio de Janeiro empenhou-se em sua candidatura à sede olímpica, em 1996; lançou, via Ibase, a Agenda Social Rio 2000, tentativa de lutar pela melhoria da qualidade de vida no Estado do Rio de Janeiro, por meio da implantação das metas sociais por ele idealizadas; e, em julho de 1997, num encontro com empresários de todo o país, lançou a campanha de adesões ao Balanço Social, uma espécie de balanço financeiro onde os indicadores são os investimentos sociais feitos por empresas.
Ao longo de sua trajetória, publicou, ainda, diversos livros, artigos e ensaios, sempre com a mesma preocupação de criticar as estruturas que tornam a vida difícil e injusta para milhões de pessoas.
O Programa Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids tem a honra de lançar uma página na internet para reverenciar a sua memória, pois sua presença nos meios de comunicação transformou-o em símbolo das vítimas da aids e da luta pela saúde da população. Que a sua luta continue pelas mãos daqueles que nele acreditaram e pelas dos seus filhos, para que a esperança por um mundo melhor e mais justo permaneça entre nós.
Quem nunca sonhou poder voar como um pássaro? Ou nadar como um peixe? Que maravilhoso seria cantar como um sabiá! Dona Centopéia sonhava fazer tudo isso, mas tinha as suas limitações, como todas as pessoas e bichos. No livro, "A Centopéia Que Sonhava", Betinho nos mostra que, sozinhos, podemos muito pouco, mas quando nos ajudamos uns aos outros, conseguimos realizar nossos sonhos. Não é difícil imaginar o porquê de tanta sensibilidade para falar de sonhos compartilhados. Betinho nunca sonhava sozinho

1 comentários:

Anônimo disse...

adoreiiii...
betinho vc eh d ++++